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Um gajo deveras apaixonado pelo que faz. Jornalista, magro, pobre e feio. Tio da Carolina e da Gabriela, marido da Viviane. Repórter de esportes e motor, sãopaulino consciente, assessor de imprensa, fanático por automobilismo e esportes de aventura, e também freelancer, porque ninguém é de ferro.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Capítulo 1: "Sem volta"

Viajo por uma estrada repleta de árvores, e elas me fazem pensar que estou em um túnel.
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O vento inexiste, ar parado, seco, que bate na face no momento em que coloco a cabeça para fora da janela e contemplo os raios de luz que arriscam e conseguem encontrar frestas pelas copas das árvores.
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Mantenho a velocidade constante, nenhum outro carro me acompanha, estou sozinho e essa sensação me dá a paz que preciso. Abro os dois vidros e deixo a brisa quente entrar; a estrada a minha frente continua tortuosa, os enormes arbustos agora rareando dão a sensação de estar em outro planeta.
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Sigo contemplando a natureza, a beleza do silêncio, o sentimento de vazio que assola. É um dia muito claro. Paro sobre uma ponte, um enorme volume de água passando sobre os pés. Enfim avisto uma cachoeira. Deixo o carro estacionado ali mesmo, no acostamento. Procuro uma trilha que leve para perto da água.
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É uma segunda-feira, lembranças da fuga da civilização, dos problemas me arrebatem como fantasmas. “Deveria estar trabalhando”. “Ora, que se foda esse trabalho, agora você tem a liberdade”.Minha consciência briga; a razão tentando vencer a paixão. É uma luta desleal.
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Cinco minutos depois encontro um declive, e com ele uma trilha que avança mata adentro. Olho para os lados procurando alguém, mas o mundo me parece desolado. Nem um sinal de vida, nenhuma buzina. Começo a caminhar, uma descida íngreme que enche os tênis novos de terra. “Merda, 200 reais jogados no barro”.
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Faço força para não me importar, para ser diferente de antes. Muitos metros depois chego à margem do rio. Olho para direita e vejo a ponte, o carro imóvel como uma estátua de pedra negra. Avisto a cachoeira, o barulho da água batendo na pedra. Sozinho, do jeito que escolhi.
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No passado ficaram família, amigos, um noivado pouco estável, casa, comida, roupa lavada pela mamãe.Caminho beirando a margem, molhando o tênis na água e tentando lembrar qual o objetivo disso tudo, qual a motivação. Lembro que sou curioso, mas alguma coisa me atrai para aquele lugar.O som fica mais forte, estou próximo da queda.
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Muita água vem descendo, transparente, gélida, colossal. O lago formado a frente impressiona, o clima de mistério confunde os pensamentos.Então a vejo, tal qual uma miragem saindo das pedras. Os longos cabelos castanhos brilhando a luz do sol, o rosto simetricamente perfeito, o corpo esguio coberto por uma túnica azul, que atrai e demonstra a força que a beleza pode ter em alguns momentos.
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A princípio resisto, os olhares se cruzam, ela se aproxima. Parados frente a frente sinto sua respiração, calma, tranqüila, quase angelical. Um toque das mãos. Sinto um arrepio percorrendo a espinha...As lembranças ruins se foram para nunca mais voltar. Não era preciso palavra alguma, não era necessário entender.
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Eu sabia o que tinha encontrado, sabia que deveria me entregar, mas não... Num impulso fujo para fora dali o mais rápido possível, tentando de todas as formas esquecer o inebriante perfume.
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Corro. Corro sem olhar, sem pensar. Novamente dentro do carro, o coração descompassado, me vem à mente: “E se...” Nunca consegui descobrir o que realmente aconteceu, nunca mais voltei para casa, nunca mais fui o mesmo. No rádio uma balada envolve e anima.
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Sem destino, eu e a estrada, tudo ficou para trás...

2 Comentários:

Blogger Diegovj disse...

Caraca, o primeiro texto...
faz tempo, hein?! Imagina onde esse cara tá hj...rsrs

Abs!

3:05 PM  
Blogger Talita disse...

Que texto bonito!
Beijo!

9:36 AM  

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