Bete, a feia
AMERICANA (é você se olhar no espelho e saber que é humano, ridículo, limitado e que só usa 10% da sua cabeça, animal) - Há pouco mais de uma semana, sou um cara que dorme na diagonal. Sim, agora sou um rapazinho que consegue caber em sua própria cama. A minha antiga estava já tirando carteira de motorista, 18 anos sustentando o corpo deste magricela que vos discursa, e deixando pés e braços de fora (e me derrubando de vez em quando, estrado maldito). Pois é, agora eu tenho uma cama de casal.
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Todo o jogo do quarto da minha mãe foi passado para o meu. Mas algo me incomoda. Cutuca, transforma em tormenta a quietude e a profundeza do lago que é o meu ser. Algo ali me deixa inquieto, me faz pensar "isso não está certo, isso não está legal". É uma senhora feinha de tudo, coitada. Igualmente velha, como a minha cama de solteiro.
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Ela é esquisita, a Bete. Ela é baixinha, atracada, com os quadris abertos, pernas curtas, joelhos gordos e um olho (um só) enorme, oval. E fica me vigiando a noite toda, de frente para o meu sono. Causando verdadeiros sustos ao denunciar minha cara de perdido ao despertar. Aquele olhão oval, que explicita, joga na minha cara toda a feiura de um ser ao acordar, me incomoda. Às vezes, chego a pensar que aquele olho enorme irá me tragar para uma outra dimensão, aquele fundo que fica girando, como no clipe de "Groove is in the heart".
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Ela tem gavetas longas, mas rasas. E tem um banquinho de madeira, com as pernas tortas (à la Garrincha) e um estofadinho verde. Às vezes serve para que seja jogado sobre ele uma calça, uma camiseta. Mas a real finalidade dele é estar no caminho para acertar-me a canela. Havia um banquinho no meio do caminho; no meio do caminho, havia um banquinho.
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Contudo, quem me transtorna é a Bete, a feia. Eu não a uso para nada. Ela me usa. Ela me espanta, me assusta, ela estraga o meu dia e me faz sentir o mais cambaleante e perdido ser andante que desperta numa manhã preguiçosa. Ela é feia, ela é horrorosa. Eu não quero ela no meu quarto.
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Eu odeio aquela penteadeira.
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.Nota do Editor: A pedidos, intimações, boletins de ocorrência registrados no segundo ditrito policial de Santa Bárbara d'Oeste, ameaças de bomba e uma liminar expedida pela segunda vara de família da comarca barbarense, a penteadeira Bete, a feia, foi retirada do meu quarto. Contribuindo, assim, com o 'desfeiamento' do cômodo e a redução de taquicardias matinais deste pobre, magro e assustado escriba.
4 Comentários:
Quanta criatividade, hein?
Esse é o cara!
Parabéns mais uma vez...
Abs
cara,
havia tempo que não lia nada tão engraçado.
juro que dei muita risada olhando pro pc. melhor, lendo seu texto.
mto bom. parabéns!
hahahahaha
manda a bete, a feia, lá pra casinha dos jacarndás, entonces.
dona dita agadece.
Tira a Bete do quarto! hahahahhaa! Ainda mais se é feia! hehehe! Beijoss!
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