SÃO PAULO (moving day!) - Sexta-feira, o grande dia. Dia da mudança. Na véspera, no entanto, veio o aviso: "proibidas as mudanças dentro de 15 dias, já que o elevador de serviço está em manutenção". Fui na administração:
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- Sinto muito, minha senhora, mas eu VOU fazer a mudança. Estou trazendo coisas do Interior e deu o que fazer para eu conseguir folga na sexta.
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Foi o suficiente.
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Caminhão carregado, chega no prédio e começa a descarregar. Minha primeira subida no elevador, com um pedaço da cama e a arara de pendurar roupas. O elevador pára no 12º andar, um antes do meu. A porta se abre, do outro lado, na penumbra, uma senhora atarracada de cabelos negros e sotaque espanhol.
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- Você está fazendo mudança no MEU elevador?
- Cuma?
- Não pode fazer mudança por esses dias, a administração não te avisou?
- Ah, mas avisou ontem à tarde e não tinha como adiar. Aliás, quem é a senhora?
- Sou a síndica.
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Dona Marta, chilena, mora no prédio há 30 anos e é síndica do bloco onde moro há três anos. É a típica síndica. Chata, implica com qualquer coisa, como todo síndico que se preze. "Hay que endurecer, senão vira zona". Logo, percebi que não seria bom para minha saúde bater de frente com ela. Então, apelei para a política da boa vizinhança, e usei um tom de voz mais que amistoso:
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- Então, dona Marta, é que estou trazendo coisas do Interior. Não é muito, e além disso foi muito difícil para eu tirar folga hoje. Estou subindo com pouca coisa que é para não riscar os espelhos. A senhora pode ficar tranquila, tá?
- Tá bom. Mas sobe com pouca coisa, viu? Yo estoy de ojo.
- Pode deixar, dona Marta. A senhora está certíssima.
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Mudança feita. Nos outros dias, sempre encontrava Dona Marta. Seja no elevador, seja no térreo. Sempre gentil, perguntava como ia a família, perguntava coisas sobre o prédio e ouvia com muita atenção. No sábado, descia eu, dois outros moradores e ela, quando o elevador pára no oitavo andar e um rapaz com um carrinho de mudança esperava.
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Depois ela me contou. Descobriu de quem era a mudança e meteu multa.
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- A senhora está corretíssima!
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Eu que não quero ser inimigo dessa mulher.
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Pinochet deixa discípulos.